terça-feira, 5 de junho de 2012

CONVERSAS IMPROVISADAS SOBRE O J A Z Z - março/2007

Esta reunião aconteceu numa sexta-feira, 23 de março às 20h00. O Prof. José Adriano Fenerick nos falou sobre o que é o jazz e o blues. Abaixo está um texto que ele nos deu para lermos e discutirmos.



27/05/2003 - 03h04     CAMINHO DAS PEDRAS: TODO AQUELE JAZZ
 CASSIANO ELEK MACHADO da Folha de S.Paulo.

Uma dessas histórias clássicas que suingam seu esqueleto nos porões do jazz é a da senhora que pergunta a um figurão do gênero o que era aquela música que ele tocava. "Se você não sabe o que é jazz com essa idade, não perca tempo tentando", teria dito o pianista Fats Waller. "Se você tem de perguntar o que é jazz é porque nunca vai saber", teria dito Louis Armstrong, a quem se atribui ainda: "Se você não sabe por que gostar de jazz, ninguém vai ser capaz de explicar para você".




Jazz não é algo para ser explicado —e um grande sucesso, na voz de Billie Holliday, foi o tema "Don't Explain"—, mas, se há algo a sublinhar sobre essa música, é a revolução que ela trouxe à arte de improvisar, de usar uma mesma base para criar infindáveis frases musicais.
É importante dizer que o desenvolvimento histórico desse gênero musical é fascinante, a ponto de seduzir um historiador como o inglês Eric Hobsbawm a escrever um belo trabalho só sobre o tema: "História Social do Jazz" (editora Paz e Terra, 1990).
Foi de forma oral e auditiva que a coisa toda começou. Como um dos únicos grandes gêneros artísticos criados unicamente por homens marginalizados em todos os sentidos (tema que Hobsbawm aborda no livro "Heróis e Revolucionários" —Paz e Terra, 1998), o jazz nem tem seu marco zero muito bem definido.
Considera-se como suas primeiras gravações as da Original Dixieland Jazz Band (que também usou a grafia "jass"), em 1917, mas, pelo menos 20 anos antes, já se fazia no Sul negro dos Estados Unidos algo que hoje batizaríamos como as quatro letras terminadas nos dois zês.
Nasceu, basicamente, em bandinhas de marcha da cidade de Nova Orleans. Nessa cidade, o jazz encontrou o caldeirão adequado para sua mistura de blues, ragtime, spirituals e marchas, salpicados todos por vidas cotidianas bem das cascas-grossas.
Desses anônimos Homeros, ficou a "Odisséia", mas não seus nomes. Talvez o mais antigo jazzista conhecido seja o cornetista Buddy Bolden, cuja banda, de 1895, muitos consideram a parteira primeira do gênero. Não é Bolden, que enlouqueceu em 1906 sem deixar suas performances gravadas, nem os pioneiros disponíveis em discos o menu recomendável para a iniciação.
Alguns chegam ao jazz pelas pedras do blues, gênero com essência semelhante e um pouco mais palatável. Mas não é absurdo sugerir um atalho direto pelo caminho dos grandes mestres.
Se a pintura teve momentos áureos nos séculos 16 e 17, foi na nossa vizinhança, 50, 60 anos atrás, o apogeu do gênero de Miles Davis.
E por que o "gênero de Miles Davis", e não de Louis Armstrong, Charlie Parker, John Coltrane, Ornette Coleman e outros dos "sete pilares" da sabedoria jazzística? Porque talvez nenhuma das grandes artes até hoje tenha tido tantas revoluções internas em tão pouco tempo, e o trompetista de Illinois foi protagonista da maior parte delas.
Nascido em 1926 e morto 65 anos depois, ele foi uma espécie de Pablo Picasso do jazz. Davis foi coadjuvante na criação do espevitado estilo bebop, nos anos 40, protagonista de sua "antítese", o mais contido "cool", na porta de entrada dos 50, ajudou a moldar em seguida o hardbop, grosso modo síntese dos dois, e assim por diante. Milhas e milhas adiante (ou, em inglês, "Miles Ahead", nome de um disco seu). Seu trompete esteve na criação do fusion, aproximação do jazz com o rock —o álbum "Bitches Brew" é um marco disso—, e chegou até mesmo ao eletrônico.
Para alguns críticos, experimentalismos como esses de Miles (ou o free jazz, do libertário Ornette Coleman) acabaram sufocando o gênero. Não são poucos os que acreditam que o "fim da história" dessa história se deu em algum lugar entre os 60 e 70.
Mas o jazz, claro, não morreu. Pule pelas pedras alinhavadas ao lado e descubra por quê.


(Cassiano Elek Machado, 27, repórter da Ilustrada, é devoto de São Thelonious Monk, pianista e padroeiro do jazz crocante).

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