domingo, 10 de junho de 2012

FILME: "QUANTO VALE OU É POR QUILO" - setembro/2007

Fizemos este evento porque tinhamos marcado um bate-papo com Iná Camargo Costa para novembro. Ela foi roterista deste filme e queriamos que os participantes assistissem o filme para melhor aproveitar a visita da Iná Camargo.
Convite:
O ESPAÇO CULTURAL ORÉ
ESTARÁ EXIBINDO NO DIA
13 DE SETEMBRO(QUINTA-FEIRA)
O FILME :
“ QUANTO VALE OU É POR QUILO”,
DIREÇÃO DE SÉRGIO BIANCHI.

Sinopse : “QUANTO VALE OU É POR QUILO?” é uma livre adaptação livre do conto "Pai Conta Mãe", de Machado de Assis. O filme traça um paralelo entre a vida no período da escravidão e a sociedade brasileira contemporânea, focalizando as semelhanças existentes no contexto social e econômico das duas épocas.Apresentação.Quanto vale o ser humano?QUANTO VALE OU É POR QUILO? desnuda uma classe que se aproveita e fatura em cima dos excluídos, desvendando como acontece esse marketing social do chamado terceiro setor e, também, como a classe-média e o proletariado se inserem nesse novo modelo.No filme, várias situações e personagens se embaralham, desenhando em cores fortes um painel de caldeirão sócio-cultural do país.Assistir a um filme de Sérgio Bianchi, à primeira vista, pode causar um certo desconforto, mas à medida que entramos no universo estético-cultural do diretor, percebemos que o contundente discurso de seus filmes é uma forma de pôr em foco os desmandos de uma sociedade alienada de si mesma, em permanente crise de valores.No filme , o que vemos é a representação de um Brasil onde imperam a corrupção, a violência, o seqüestro, as desigualdades e a ilusão de uma harmonia racial que só existe nas novelas de tv.Cineastas de muitos rótulos - demolidor, corrosivo, radical, anárquico, etc, etc, etc. O cinema de Sérgio Bianchi está acima desses rótulos. É um cinema substantivo, sem concessão, que só quer fazer uma reflexão sobre a realidade brasileira. Em QUANTO VALE OU É POR QUILO? a questão central é refletir quanto vale o ser humano. Só isso... ou melhor, tudo isso.

ABAIXO, UMA ESTREVISTA COM SÉRGIO BIANCHI PARA A FOLHA DE SÃO PAULO.


22/02/2002 - 03h16
"Não procuro o culpado, e sim o inocente", diz Bianchi

do colunista da Folha

Na entrevista a seguir, o diretor Sergio Bianchi comenta seu longa-metragem "Quanto Vale ou É por Quilo?" no contexto do seu cinema e da sua reflexão sobre as mazelas do país. "No fundo, a gente faz sempre o mesmo filme", afirma.
(JGC)

Folha - "Quanto Vale ou É por Quilo?" é uma radicalização de seu filme anterior, "Cronicamente Inviável"?
Sergio Bianchi -
Talvez. Mas a Iná Camargo Costa, que colaborou no roteiro, disse que o novo filme deveria se chamar "Cronicamente Viável", porque nele todas as pessoas são dedicadas ao bem (risos).

Folha - Mas as formas atuais de "dedicar-se ao bem" são o principal alvo do filme, não?
Bianchi -
Não tenho nada contra o desejo de ajudar aos outros, mas acho um horror essas associações de filantropia. Uma classe social que cria no seu cotidiano o desarranjo total e, por sentimento de culpa, resolve assumir o papel do Estado. Para essa classe, as crianças pobres devem continuar existindo para que o mercado continue.

Se as pessoas que se dedicam sinceramente à filantropia usassem essa energia para pressionar o Estado, poderia ser criado algum parâmetro civilizatório.

Folha - Seu filme fará um paralelo entre a "coisificação" do ser humano hoje e no tempo da escravidão. O que vivemos é herança escravista ou é uma mercantilização de outra natureza?
Bianchi -
Acho que a herança escravista é inerente à nossa cultura, principalmente nas áreas do país em que a escravatura foi mais forte. Só que agora a questão não é cor, não é raça, não é nada. O valor de mercado do ser humano pobre é o seu final, a sua queda. A desgraça do miserável, a não-solução do seu problema, é o que interessa à elite.
O marketing social aplaca a culpa e ainda rende dinheiro. Isso me agride profundamente. Pô, ou faz a revolução ou assume o cinismo. Essa hipocrisia dói.

Folha - Seu longa anterior era implacável com as saídas políticas e institucionais. Agora, você ataca o voluntariado, as ONGs... Qual é a saída? O terrorismo?
Bianchi -
Não tenho nenhuma obrigação de apontar caminhos. Meu emprego não é esse. Acho que só o fato de mostrar aspectos ocultos da realidade e colocar o espectador para pensar já é saudável. E diverti-lo, também, por que não? O que eu abomino são essas pessoas "Pollyannas", otimistas, que ficam tentando camuflar a realidade.

Folha - Você acha que o cinema brasileiro tem feito isso?
Bianchi -
Acho que nesse chamado renascimento do cinema nacional tem gente com uma grande vontade de fazer filmes dentro do sistema mercadológico hollywoodiano. Não dá certo.

O circuito continua dominado por 90% de cinema americano, que é o lixo paranóico da cultura imperial americana. Se você não tem o espaço para a exibição, fica esquizofrênica essa procura de um mercado falso.

Folha - Mesmo criticando as "ações filantrópicas", seu roteiro mostra uma simpatia por alguns personagens, como a negra grávida que se rebela contra o patrão, o que indica uma mudança de tom com relação aos filmes anteriores.
Bianchi -
Foi proposital. Acho que é a idade. Esse é o filme da minha maturidade senil. Acho que hoje não estou mais procurando quem é o culpado. Quero saber quem é o inocente.
Além da Arminda, que você citou, acho que há uma certa simpatia também pelo Dido, o personagem do sequestrador.

Folha - Já que esse é o filme da sua maturidade, como você vê a evolução da sua obra?
Bianchi -
Não penso muito nisso, mas vejo que tenho duas épocas. Meus primeiros curtas, como "O Ônibus" e "Segunda Besta", são belos, doces, mostrando pessoas bonitas em situações inusitadas.
Já "Mato Eles?" e todos os longas entram em outro registro, que é o da risadinha irônica diante do que me agride. Como se dissesse: "Ah, é assim, é? Então toma". Concordo que há um bafo de ressentimento neles. Mas não acho possível voltar à primeira fase.

Folha - O que mudou?
Bianchi -
Tudo. Eu me achava um cara incrível, que circulava em todas as rodas. Andava com a alta classe, com a esquerda, a direita, os travestis, os artistas. Frequentava a feira de antiguidades do Masp e o centrão da cidade, os Jardins e a Boca do Lixo.

Agora não dá mais. Trinta anos sem colégio levaram a cidade, o país, a outra coisa. Você sai para ir ao cinema e encontra uma mulher de 80 anos morrendo na tua porta. Na colônia cinematográfica, ninguém se encontra, ninguém fala de cinema. Ficam uns querendo morder os outros.

Folha - O sonho de um país harmonioso acabou?
Bianchi -
Acabou. Não acredito mais num país harmonioso. Agora, o bom colégio teria de ser uma coisa imposta. Quem iria impor? Quem quer de fato mudar a situação?

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