segunda-feira, 11 de junho de 2012

INÁ CAMARGO COSTA - novembro/2007

O ESPAÇO CULTURAL ORÉ
neste mês de novembro terá uma esquete denominada
“ÊTA NÓIS”
 apresentada por um  grupo de teatro de Ribeirão Preto.
Também teremos a presença de uma conceituada critíca de teatro de São Paulo,
INÁ CAMARGO COSTA*
Ela nos contará como foi o contato com Sérgio Bianchi, diretor do filme
“QUANTO VALE OU É POR QUILO”,
e de como trabalharam juntos. Fará também algumas observações sobre o filme em comparação com o roteiro. Esperamos você aqui no  dia 8, às 20H00,

*colaboradores: José Adriano, Adriana Alves, Nelson Carvalho,
Marcelo Fenerich, Araci, Sérgio.
*agradecimento especial à Silvana Borsari, Marcos Durigan(Marcão) e ao vereador Murilo Gaspardo.
* Professora Aposentada do Departamento de Teoria Literária da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo, ensaísta e pesquisadora. Traduziu, entre outras obras, “A Máquina de Somar”, peça de Elmer Rice. Além de vários artigos em revistas e jornais, publicou os livros “A Hora do Teatro Épico no Brasil” (1996),  “Sinta o Drama”(1998) e “Panorama do Rio Vermelho”(2001). Colaborou no roteiro do filme “Quanto Vale ou é por Quilo”, de Sérgio Bianchi.

APOIO: UNESP-FCAVJ


ABAIXO UMA ENTREVISTA COM INÁ CAMARGO.


ENTREVISTA: Compromisso com a cultura, não com o mercado

por cleber — Última modificação 12/04/2006 14:21
Maria Mello
de Brasília (DF)


Não é de hoje que o Estado brasileiro confunde política cultural com política de mercado. A prática da “renúncia fiscal” é considerada pelos governantes a mola propulsora da produção artística do país. Nessa lógica, empresas públicas e privadas podem aplicar em cultura parte do imposto de renda que devem, permitindo que fundações e instituições ligadas a bancos e até a canais de televisão se beneficiem do dinheiro público. Em vez de fomentar produções novas e pouco conhecidas, a medida surte efeito contrário. No teatro, por exemplo, privilegia grupos ou artistas que se consagraram na televisão.
Na contramão desse pensamento, nos últimos anos surgiram no país grupos dispostos a pensar a arte para além da mercadoria. Um deles é o Movimento Arte Contra a Barbárie, de São Paulo, expressão organizada de personalidades do teatro paulista que desenvolvem projetos de pesquisa da linguagem teatral, de interesse social e cultural. Integrante do Movimento, a ensaísta e pesquisadora Iná Camargo Costa fala da proposta do grupo para fomento à pesquisa e à produção teatral no Brasil.
Brasil de Fato - Recentemente, o Movimento Arte Contra Barbárie apresentou ao Congresso Nacional um projeto de lei de fomento ao teatro. Qual a proposta do projeto?
Iná Camargo Costa -
A política cultural do Estado desde o governo Collor, e que continua no governo Lula com variações, é dar dinheiro para o mercado cultural. Então, o Arte Contra a Barbárie, questionando essa maneira explícita de o Estado mostrar a sua simpatia, seu vínculo com os interesses do mercado em relação à cultura, propôs uma lei de fomento ao teatro na cidade de São Paulo. O que significa fomento ao teatro? Significa definir uma política pública, de Estado, no âmbito municipal. Forçar o Estado, pelo mecanismo da luta democrática, a assumir a sua responsabilidade na produção e em assegurar o direito da população ao acesso tanto à produção quanto ao consumo da sua própria cultura. A lei especifica ainda mais: que serão fomentados projetos comprometidos com a pesquisa da linguagem teatral, projetos que não interessam ao mercado. Por não interessar ao mercado, o resultado do trabalho - mesmo que seja um espetáculo - não tem perspectiva auto-sustentável. Nós sabemos que, no curto prazo, o mercado não se abre para esse tipo de produção.
Com base na nossa experiência - que começou a ser viabilizada no primeiro ano da administração Marta Suplicy - e com base em intercâmbio, por visita de grupos de outros Estados e visitas nossas a outros grupos, começamos a discutir no plano nacional a hipótese de formular uma lei equivalente. Ela ainda não entrou em pauta de votação, e esse é o momento que nós estamos fazendo a discussão nacional do projeto, para em seguida solicitar o encaminhamento para votação e, se aprovado, a sua implantação. A proposta nacional se chama Prêmio ao Teatro Brasileiro e contempla, em primeiro lugar, fomento à pesquisa e à produção continuada de grupos teatrais do Brasil inteiro; em segundo lugar, à circulação de espetáculos que já existam, e em terceiro lugar, à produção de espetáculos. Nós queremos que venham para o nosso campo pequenos produtores que não têm horizontes de sobrevivência no mercado.
BF - Quais são as variações às quais a senhora se refere em relação ao tratamento que os governos vêm dando à cultura nos últimos anos?
Iná -
O Ministério da Cultura é determinado pela política macro, isto é, aquilo que foi combinado com o Fundo Monetário Internacional, o compromisso do (ministro Antonio) Palocci com o superávit, o pagamento das dívidas e dos juros para os bancos. Obviamente não pode se retirar do circuito determinado por ela, e todo movimento diferente disso provoca terremoto na classe artística. Assim como no campo dos juros, que dá dinheiro para quem já tem dinheiro - os bancos com 50% de lucros em 2005, por exemplo -, no Ministério da Cultura o mesmo acontece. Só que por ser uma composição um pouco mais progressista, você tem pequenas intervenções que apontam em outro sentido. E nesse âmbito é claro que o Antônio Grassi, presidente da Fundação Nacional de Arte (Funarte), é um aliado nosso. Ele é capaz de fazer uma crítica aos resultados da lei de incentivo fiscal da cultura. Mas como a atuação dele é determinada pela política macro do governo, o alcance do que ele pode fazer é muito restrito. Enquanto a política geral for a que o governo Lula vem fazendo, continuam em vigor as leis de incentivo em detrimento dos interesses de uma real democratização do acesso e da produção de cultura neste país.
BF - Teatro é coisa de burguês?
Iná -
É sim, mas o burguês brasileiro só gosta de teatro estadunidense, inglês. Porque a classe dominante brasileira nem ao menos se assume como burguesa, isso é que é o mais triste. E justamente porque ela não se assume como tal, não tem interesse pelo país dela. O nosso país, para a nossa classe dominante, é só a produção da riqueza, que ela prefere gastar em outros mercados. No Brasil, desde os anos 1960, acontece esse fenômeno curioso: o real teatro, culturalmente ligado à experiência social brasileira, é um teatro que não interessa para o burguês. O burguês tem nojo de nós.

Quem é
Iná Camargo Costa é professora do Departamento de Teoria Literária da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo. Entre outras obras, traduziu A Máquina de Somar, peça de Elmer Rice, e colaborou no roteiro do novo filme de Sérgio Bianchi (ainda em produção).


             

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